OLHAR DIGITAL

Ela vê e não sorri

abre a sua íris mecânica

joga um feixe de brilho

e digitaliza na lembrança

Ela não ri pra ninguém

isso ela não sabe

mas muitos lhe sorriem

quando ela se abre

Seu olhar quase mágico

vê o que eu não vejo

já tem ouvido, acho

e mantém tudo em segredo

Sendo velha ou nova

quase sempre é quadrada

e até me inspirou essa prosa

pois também é arrojada

ela digitaliza tudo o que vê

gravando em seu coração

mas só mostra pra você

depois da revelação

Tudo que mostram ela vê

mas não julga nem reprova

então cuidado com você

se ri ou se chora

Ela não tem marido

mas é sempre muito fiel

até se alguém é traído

ela cumpre seu papel

E pode dizer do coitado

tudo que ele fez

se em pé, se deitado

até mesmo nu, talvez

E é causa de muita separação

quiçá de alguns divórcios

pois é de insensível coração

e não sente nenhum remorso

Mesmo sem nada dizer

ela sempre revela tudo

em contraste ou dégradé

em ângulo reto ou obtuso

Ela já é centenária

mas nem parece quarentona

não pergunte sua idade

isso eIa não responde

Ela não é chocolate

nem mesmo é comestível

mas há quem a adore

seja doido por seu click

Ela não é nenhuma artista

mas faz muita obra de arte

como uma aquarela futurista

bem nítida, pixells à parte

Sou olhar quase biônico

pode tudo retratar

ele nunca foi anacrônico

mas pode o antigo mostrar

Ela não é espelho

mas mostra um defeito

quando vejo o seu lampejo

costumo ficar sem jeito

Ela não é morcego

mas vê na escuridão

usa raio infravermelho

não duvide disso não

Ela pode ver até do céu

e vê rim e coração

pode levar à grade um réu

que na cumbuca pôs a mão

Ela não é tórax

mas tem diafragma

e está sempre na moda

mesmo sendo centenária

Também tem obturador

além de velocidade

apesar de não ser corredor

e também da sua idade

Ela só faz o que lhe dizem

mas é muito inteligente

reconhece até matizes

além de rostos de gente

Ela não tem pátria

por isso é poliglota

o mundo todo ela viaja

em grupos e patotas

Ela não é espaçonave

mas ela vai ao espaço

e prova que lá esteve

na Columbia e na Challenger

Cuidado com o seu olhar

ela não precisa dormir

via em PB outrora

mas hoje sabe colorir

Seu coração é de pedra

mas ela é muito sensível

alguém clica e ela espera

seu lugar ele assumir

Ela anda carregada

mas gostam da sua companhia

o seu peso é quase nada

a não ser com teleobjetiva

originada em clima frio

é sensível ao calor

mas opera em mar e rio

se lhe põem um protetor

Ela não é cafeteira

mas também usa filtro

é melhor não falar besteira

se estiver ligada em vídeo

Ela é feminina e amada

mesmo por ambos os sexos

ela é a máquina fotográfica

filmadora e outros trecos.

Por Oli Prestes