PEDRA DE SANGUE
Vendo os passarinhos livres nos arvoredos
Sambando no gozo da fria ventania
Sinto-me um rochedo cativo em segredos
Guardando um espaço na terra e seus remedos
Uma alegoria entre pedras e poesias
Essas irmãs terrenas
Que ainda hoje os homens
As usam em meio a sua fúria
Para apedrejar a mulher dita impura
Com o beijo sacrificante de suas
Mãos assassinas e frias
E nos usam (pedra falando) como suas extensões
Atirando da primeira até a última pedra (pedra matando???)
Diante do reles suspirar do hálito carnal
Rolam as pedras do sepulcro infernal
Sim nos usam (pedra falando) ou melhor, nos abusam
Como Carimbos de passaportes
Pra tombar a pobre criatura animal
Partir deste mundo como indigente
Na amarga e fria sepultura...
O mundo continua atrelado
A nós (rochas falando) trogloditas sociais e seus suplícios
Em suas cavernas “tecno-canibais”
Tudo está na rua a céu aberto
Estamos nos fatiando
Fazendo parte da macabra dança
Faz parte do exercício da lambança
É tortura, é massacre, é matança
Semelhante comendo semelhante
Assassinatos bárbaros de inocentes crianças
Crimes com tabela de preço pra contra dança
Sob encomenda que triste apreço
A matança hoje é a única
Que tem certo seu endereço
Uma forma grotesca de sobrevivência
A que ponto chegamos diante deste abate
Desta escala da desvalorização do ser
O que antes era pior
Pra dizer o que melhorou nesta história
Foi somente o superlativismo da piora
O corporativismo da degola
Embalada a vácuo como cadáveres
De bois maquiados nos supermercados
Em bandejinhas pra durar mais
E reduzir o peso na consciência
Se é que existe balança pra pesar
Herança genética...
Mais isso é caso de apologética
Quem sou eu pra jogar pedra
Nesta tal Geni que tanto falam por aí.
Ninguém joga pedra em si (pedra calando)