A PAZ
®Lílian Maial
 
 

Quando as almas se despedem,
num murmúrio branco,
os lábios cerram as possibilidades de canção.
Num segundo, a vida.
Simples é a morte.


Não apraz.
 
Há uma pressa de cuspir espinhos.
É preciso sorver o grito repetidas vezes,
atear o medo na manhã de sonhos violados.
 
A paz é fugaz.
Fica o caos na cegueira pacífica.
A mão que acena é a que condena,
revolve o coágulo ressequido da gangrena,
pulveriza o ranço dos dias feridos de futuro.
 
A paz não tem paz.
No meio do dia, o réquiem soturno da noite.
Silêncio de flor e pedra.
Voo maculado de uma pomba.


Manhã natimorta.
Os ossos da cidade recolhem restos de fortuna,
Pathos putrefatos de promessas.

Perdem-se no poente do tempo
os olhares da multidão, corveando mazelas,
que a paz é feita em cacos do passado.


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