O Momento da Luta
Que luta sangrenta que travo comigo
no escuro da alcova silente demais
que leva de mim meu amor, grande amigo...
E tudo no instante fenece sem paz.
São horas e horas num pranto dorido
de todos, de tudo... pareço fugido,
mas minha verdade é de alguém desdenhado.
Fantasmas da noite aparecem ferozes,
enquanto imagino o Natal, muitas nozes,
crianças felizes sorrindo ao meu lado:
"Que tolo poeta! Pareço gentil?"
Não vejo ninguém a não ser o breu vil:
"Será que eu estou tendo um surto instantâneo?"
Meu olho percorre as paredes sombrias...
Fugiram de mim as reais alegrias!
E tudo é funesto aqui dentro do crânio.
Que vultos são esses? Que vozes são essas
que mostram a mim o caminho do mal?
Que falam a mim com astúcia letal
dizendo que tem um milhão de promessas?
Calado e com medo, trabalha o pensar,
enquanto os tais vultos persist' em falar:
"Escolhe pra ti qualquer uma pequena:
a loira, a mulata, a formosa morena,
mestiça ou a branca da cor de açucena,
vermelha que tenha uma face serena...
"Escolhe pra ti a mais casta donzela
que vive sonhando com seu grande amor,
fiel, verdadeiro, seu pajem, senhor...
Depois tu feneças e morra por ela.
"Ou pegue pra ti a mulher radiante,
rainha da noite que tem a Luxúria
por deusa suprema escarlate purpúrea,
pois ela fará teus desejos de amante."
E eu fico comigo pensando em firulas
e as doces virtudes do amor verdadeiro,
cogito em vingança pra dor de um alheio,
em ato sublime que o meu peito inteiro
se alegra de gozo, ternura e de paz,
por isso que vivo um inferno certeiro.
Que coisa mais vil é pensar em vingança,
desgraça do alheio que culpa não tem!
Não temos justiça! E por que justiçar
à nossa maneira e bem como convém?
Debaixo da porta do quarto, então, vejo
a frouxa luz clara que passa entre a fresta.
Não sei o porquê, o motivo da festa.
Em meu coração sinto dor inda invejo
o riso contente e por dentro trovejo,
reclamo e até mesmo me ponho a almejar
a luz bem mais clara que o cheio luar,
as vozes diversas que cantam felizes,
pois eu não consigo deixar cicatrizes
nos dez de galope na beira do mar.
“Meu filho querido não pense maldades.
Em seu coração guarde sempre esse amor
e sê paciente no tempo de dor,
na sua ou até mesmo em outras cidades;
Não ouça essas vozes que são inverdades.
Eu sei desta mágoa, rancor e chorar,
mas, tente, Eu te peço – seu Pai salutar:
não faça o que quer, faça sempre o que Eu quis,
pois quero lhe ver sorridente e feliz
cantando o galope na beira do mar.
“Eu sei que o caminho parece ser árduo,
que tudo parece estar contra você,
que o canto não vem; a promessa não chega
e tudo que é bom o seu olho não vê.
Eu fico contente ao lhe ver resistindo
as duras pelejas da carne e da mente,
do atroz inimigo que tão sabiamente
só quer destruir tudo aquilo que é lindo.
Mas fico infeliz ao lhe ver desistindo
jogado, sem fé e ninguém pra falar,
pois sempre eu estou ao seu lado a escutar,
porque meu amor é infinito e traz paz,
enquanto você não me escuta jamais
nos dez de galope na beirado mar.”
Então, vou dormir mesmo tendo aflição,
o gosto sombrio da hostil solidão,
chorando igualmente uma ingênua criança.
E Deus que é fiel ao raiar o outro dia
me mostra as proezas com muita alegria
e minha alma infeliz com carinho Ele amansa.
O broto formoso me dá esperança
de eu ser novamente feliz algum dia,
contar para o mundo: quem quer sempre alcança!
16/04/2011 15h58