QUEM NÃO TEM A SUA?
Cicatrizes feridas abortadas
Que o tempo vai delineando na gente
São tatuagens naturais do acaso
Fortalecidas e regeneradas
Que surgem do nada
Entre rugas e outras amadas nascentes
Ou em perdas que enchem de tristeza
A gente por dentro
Hieróglifos de feridas e fendas
Vão se formando no torno
Da pele adjacente
Cicatrizes são apêndices
Um “causo” que sempre
Haveremos de lembrar
Uma assinatura feita à foice num momento afoito
E assinada com o nosso sangue inocente...
Cicatrizes às vezes se assemelham
A uma centopéia, primeiro nos picam
E depois de vencidas se plasmam na pele
Cicatrizes são endereços escritos a ferro
No pergaminho epidérmico da derme
Cicatrizes lembram o cordeiro imolado
Diante do seu recrudescer...
O sangue jorrado
É a testemunha da ressurreição
Quando Tomé pagou pra ver
E a luz é a cicatriz do anoitecer.