(((((...ABANDONO...)))))

Eu voltei por entre as flores da estrada

em direção ao céu aberto - princípio do nada

em cada passo um pensamento vestia-me o corpo

dentre a brisa matreira que versava um ar absorto

como se todo abandono pudesse enfim passar

que o instante era uma canção, que tudo pode mudar

Caminhei por entre montanhas enluaradas

a procura da minha paz desencontrada em tantos nadas

tateando sóis fugidios de lembrança, nos ares de esperança

dentre as tempestades sentidas e a neve florida de bonança

trazendo em punhos a poeira das estrelas e o coração

em talhos e compassos de frutífera ilusão - a paixão!

Num suspiro de não sei que, quase despencando ao chão

nessa vertigem de quilômetros por hora em estação

A vida sobre o prisma sem muita inclinação

buscando na paisagem qualquer braço de consolação

Todos os amores em fiapos eu quisera,

ao invés da cicatriz tecida de primavera

Voltei...ao que deixei nos restos de velhos tempos

ali...Nas noites por sobre os novos edifícios de meus sentimentos

Num estranho conhecido em suas mãos de tempo cativo

um raro instrumento é seu destino: ao regressar já mudo o violino

Agora já não é possível morrer ou,

pelo menos, já não posso fechar os olhos,

aparto o silêncio em lágrimas, e finalmente percebo - me achei .

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 15/04/2011
Código do texto: T2911185
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