Que as covas sejam abertas!

Que as covas sejam abertas,

pois prefiro, em desalento,

vaguear pelos escuros vales da morte

do que testemunhar tamanho despropósito.

Caro coveiro, guardião do além-mundo,

abra mais que uma cova, mais que duas covas...

Prefiro a alma calada, amigo último,

do que as palavras absurdas

a voarem insolentes, feito poeira vil...

Que os vermes, eternos servos da morte,

beijem as folhas podres e profanas de tal partitura

em resposta ao ultraje ignóbil

de tais vicissitudes sombrias.

Cave mais que uma, mais que duas,

mais que mil covas, caríssimo meu,

que são incontáveis as palavras medíocres

assim como são os ossos aqui enterrados.

Trouxe-lhe vinho, que a noite será longa...

Leitora BNFS
Enviado por Leitora BNFS em 14/04/2011
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