Que as covas sejam abertas!
Que as covas sejam abertas,
pois prefiro, em desalento,
vaguear pelos escuros vales da morte
do que testemunhar tamanho despropósito.
Caro coveiro, guardião do além-mundo,
abra mais que uma cova, mais que duas covas...
Prefiro a alma calada, amigo último,
do que as palavras absurdas
a voarem insolentes, feito poeira vil...
Que os vermes, eternos servos da morte,
beijem as folhas podres e profanas de tal partitura
em resposta ao ultraje ignóbil
de tais vicissitudes sombrias.
Cave mais que uma, mais que duas,
mais que mil covas, caríssimo meu,
que são incontáveis as palavras medíocres
assim como são os ossos aqui enterrados.
Trouxe-lhe vinho, que a noite será longa...