O mistério da casa

Um dia perto da cidade nasceu uma casa. Nasceu o teto primeiro, como a lógica

Espacial deve mostrar. Depois do teto, que já foi uma festa para os moradores, brotaram

As paredes, aos poucos, sem pintar. Imagino que casas nasçam imaturas. E foi crescendo as paredes

E conforme crescia uma multidão de gente passava pincel, brochas. As cores mudavam, alterava, porque todos a queria de cor diferente. Mas apesar disso continuou a crescer. Quando as paredes já estava com dois metros, abriam as janelas e olhavam loucos pra dentro. Ficavam maravilhados porque já tinha piso vermelho, mas pouco lustrado. Sorriam em alegria livre: “é linda por dentro”. “O banheiro?” – respondiam que ainda não estava pronto, o vaso era uma criança, a pia só tinha o broto na parede. Mas já se sabia que era branca. O chuveiro, o buraco na parede criava esperança no olhar do povo. Os dias passavam e a casa crescia. Até que finalmente as paredes estavam prontas. No baixo, a base forte de concreto finalmente se formou. Nasceu a casa.

Tudo pronto, o banheiro, a cozinha, o fogão a lenha (faz muito tempo que isso aconteceu). Ninguém entrou na casa, ajoelharam, acenderam velas, incensos, criou uma pequena placa escrita palavras divina. colocaram na porta. E durante muitos anos esperaram a coragem de algum homem. Quem entraria numa casa que nasceu sozinha? Sem ninguém planejar. Se fosse uma planta, plantar? Ninguém. Os anos foi se passando, e não aparecia o tal homem que desafiasse a ordem das coisas. Ninguém queria perder sua alma. Ninguém queria entrar na casa vazia. Assim é até hoje. Em volta, o povo arde em desejos.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 14/04/2011
Código do texto: T2909014