ODE À VAIDADE
Vai! Vaidade! A viajante deslumbrada!
Extasiada! Pretenso poder, envolta.
Órbita exorbitante que gravita solta,
Grávida de sonho engalanado, errante;
Galáxia mesquinha e tinos bestiais,
Cinestesia única, cores corporais.
Anestesiada mente, olho oscilante.
Desliza em balizas lisas, faciais.
Fúteis flores tingidas, superficiais,
Pífias pias batismais, obsesso cavalgar
Em dorsos, abscessos, êxtase inventada;
Da fria fonte, ponte, fantasia escalpada,
Tormenta morna, estonteada... soçobrar!
Algoz de outrem, ídolo de si, Narciso!
Alinhavo de vida, vizir impreciso.
Linhas, vertigens, abominável aborto,
Atroz arpão que aniquila a proa;
Quilhas, capitão que treme ao leme, à toa,
Cacofonia dissonante entre mar e porto.
Abrupta gota, inebriante, cítrica,
Êxtase estático, vida, via cíclica.
Gulas guiando navio vazio, naufragado,
Desertor da sorte, deserto esculpido
Sem bússola, escuro, do mundo, o díodo,
Visão desarmada, escudo desalmado.
Homero, Horácio sem versos, ode desconexo.
Elos, Eros sem ereção, sem gozo o sexo
Vagarosa ave,gávea ousa ser Deus;
Vigília! Virgílio, Eneida enervada,
Camões sem mares, Afrodite atrofiada,
Medusa usa, abusa, acusa Zeus
Unicórnio! Mil cornos, traição à cara!
Netuno soturno, mirantes desmascara,
Piscar de olhos, único olho: Polifemo!
Oráculo, Ísis sem lua, um só Osíris,
Hércules, Hera de cera, ofuscada íris.
Na cabeça, o coma, na fome, o feno.
Do obsceno torpor! Nem Egito ou Roma!
Sem túmulo adornado, Tutacâmon
Sem trono, Akenathon,aquietado, Partenon.
Amon pardo, Netuno nu, tom atônito!
Baco sem vinho, paira, pálido Plutão,
Vênus desnudada, Minerva... decisão
Do herói herético, ergue-se o vômito.
Vai Vaidade! Verdugo insano e vão!
Visão grande, viés da pequenez da alma,
Bálsamo do Ego, Inez embalsamada,
Deuses, anjos, ninfas de um ser intrínseco.
Ícaros carentes, vôos velados, asa
Ávida, Evas, ave acesa, não alada
Dormita acordada aos pés do Olimpo.