A saudade.
A saudade vem sempre tarde, sem muito alarde,
chega de mansinho como quem nada quer
e fica dona da nossa alma pra sempre,
para sempre.
Então viramos refens da sua voz,
tantas vezes teimamos fugir do seu cheiro,
mas ela nos caça na hora com suas garras de samurai.
A saudade tem muitas caras e um olho apenas
e com ele consegue ver o que a nossa alma ainda não sabe
para nos fazer marionetes eternamente ao seu dispor,
ao seu dispor.
A saudade tem tantas vértebras quanto os nossos sonhos terão um dia,
é uma jagunça que quer nos matar devagarinho, sem pena,
e acaba nos atolando nos brejos da solidão até nunca mais,
até nunca mais.
A saudade é o nosso algoz que nunca perde o tom,
fica na espreita dos nossos passos só pra nos passar a perna,
fica escondida nos nossos desejos como um fétido torpor vencido.
A saudade um dia virá se despedir de nós, se virá,
e como sempre a tivemos atada ao nosso sangue, sem trégua,
imploraremos para que fique, faremos uma cena que a levará às lágrimas,
e ela então poupará nossos lamentos e voltará de mala e cuia para o nosso peito,
para não abandoná-lo nunca mais. Nunca mais.
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