PENSAMENTOS DE PINEL
P E N S A M E N T O S D E P I N E L
Tripudio sobre a lógica
Uso menos ainda a razão
Embaralho os caracteres
Complico a mil
Meu discernimento é de debilóide
Sou entranhado de pensamentos de Pinel
Meus pontos de vista são de doente mental
Não explico, engano como Freud
Faço risco na água
Brigo com minha sombra
Divido zero por dois
Pulo na lua achando que é queijo
Lavo sabão até acabar a espuma
Sou considerado louco
Tachado de mais que doido
Conclamado oficialmente insano
Nem por isso deixo barato
Esboço silêncio, gritando...
Na aflição fico calmo
Na presença da morte dou gargalhada
Se me sorriem, eu choro
Bato de frente com a muralha
Chupo cana e assobio
Fico nu sobre o altar da igreja
Minha língua oficial é o marciano
Queimo cédulas de dinheiro
Particularmente, eu sou um grão de areia
Ou um bloco de granito de mil toneladas
Entre milhões estou solitário no nada
Estou abaixo de ninguém
Meu endereço é fixo; riscos no papel
Porque não num leito?
Talvez num mausoléu?
Aqui jaz uma abóbora machista
(maio/1988)