UM DIA QUALQUER

Quero um dia como o de hoje

como jamais

como nunca mais

com sempre.

Quero um dia já

assim sendo

de repente

um dia novo, um renovado

um saliente.

Um dia velho, folhas murchas

a chorarem o chão

pão sujo a sujar os pés

ímpar e insano

devagar e simultâneo,

a guerra fria dos homens

sem alma

da frieza sem calma

dos distúrbios, dos exageros

da hipocrisia crua a limpar

os olhos do sofredor,

sugando o sangue novo na

véspera da fertilização.

Quero um dia de prova

uma alcova, um despenseiro

um apóstolo, um cozinheiro

uma noite nova

uma soma nas horas

de passeio pelo último dia

qual hoje, que foge

qual nunca, que dorme

na sombra da memória

fosca

do homem sem rosto

a chorar a morte do grão.

Ontem, não, dia velho

fogo insano, queima o pano

some a máscara

vai à busca, descompassa

cria história sem som.

Quero um dia longo

flor na mão, pétala morta

dia sujo, fogo e chuva

cruz e jugo a amaciar

o coração

dia não, noite eterna

neurose na tela da

animação.

Máscara solta, língua torta

desnutrição.

Quero um dia sem noite

afoito a limpar o chão

sublime a molhar a horta

e trazer a chave da porta

para salvar o porão...

Dia são.

Chuva e sol a cruzarem

o caminho

que derruba a cerca para

o vento a alma aquentar,

e acordar quero, num dia qualquer.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 10/04/2011
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