UM DIA QUALQUER
Quero um dia como o de hoje
como jamais
como nunca mais
com sempre.
Quero um dia já
assim sendo
de repente
um dia novo, um renovado
um saliente.
Um dia velho, folhas murchas
a chorarem o chão
pão sujo a sujar os pés
ímpar e insano
devagar e simultâneo,
a guerra fria dos homens
sem alma
da frieza sem calma
dos distúrbios, dos exageros
da hipocrisia crua a limpar
os olhos do sofredor,
sugando o sangue novo na
véspera da fertilização.
Quero um dia de prova
uma alcova, um despenseiro
um apóstolo, um cozinheiro
uma noite nova
uma soma nas horas
de passeio pelo último dia
qual hoje, que foge
qual nunca, que dorme
na sombra da memória
fosca
do homem sem rosto
a chorar a morte do grão.
Ontem, não, dia velho
fogo insano, queima o pano
some a máscara
vai à busca, descompassa
cria história sem som.
Quero um dia longo
flor na mão, pétala morta
dia sujo, fogo e chuva
cruz e jugo a amaciar
o coração
dia não, noite eterna
neurose na tela da
animação.
Máscara solta, língua torta
desnutrição.
Quero um dia sem noite
afoito a limpar o chão
sublime a molhar a horta
e trazer a chave da porta
para salvar o porão...
Dia são.
Chuva e sol a cruzarem
o caminho
que derruba a cerca para
o vento a alma aquentar,
e acordar quero, num dia qualquer.