CREPUSCULARES
No alto da montanha inabordável,
no gigantesco anfiteatro de serras
despenhadeiros desafiam o tempo,
tempestades de violência diluviana
abalam as árvores,
tangem as feras
e o frio sopra a refratar as almas.
Mas também ali
entre as palmas,
na paisagem desmedida,
há coisas que falam de ternura e de humildade:
crótons, lírios, pela relva de manhã,
um olho d’água aos pés de um flamboiã
onde as borboletas várias
voam altaneiras
às estrelas luminárias.
E neste útero do universo
onde tudo se cria e recria
o proscrito ganha alma nova,
como gaivotas sobrevoando os mares
e a poesia em voos crepusculares.