Poema aos doze anjos
mais de cem disparos
pelos ares de paredes e tetos de concreto
ecoam pelo escuro da mente
e pelo quadro negro da sala
então sobre fumaça, de pólvora e de giz
e começa o coro lúgubre, que medo e agonia me diz
e batem passos frenéticos
tão pequenos, tão fraquinhos
banhados de sangue nada poéticos.
mãosinhas que procuram lugares, aos pares
onde se segurar
,com os seu pensamentos infantes,
se esconder dos olhos fulgurantes
vermelhos do bicho, que lhe fazem chorar
mais um disparo, caem-se os corpos
e mais outro disparo, espirra-se o sangue
e mais doze corpinhos caídos ao chão
e todas as inocências que existiam ali
já não existem mais e
nunca mais existirão.
agora guardadas em porta-retratos
talvez em sonhos visitem na imaginação
com lembranças de balas em muros moldados.
e as lágrimas que escorrem dos olhos e das almas
dos pais que orfãos ficaram
nunca mais cessarão
vão em paz, meus meninos
que o brilho do céu irá te acolher
já passou, já passou, meus anjinhos
e mais nada de mal vais lhes acontecer