ABACATEIRO
Vejo o céu reter a luz do sol,
Por entre as nuvens cinzentas,
Vai e vem a claridade em prol
Das meigas brisas opulentas.
Fecho e abro a tola persiana,
Que já se partiu de tanto uso
Seu tecido parece uma membrana
Que sofreu de alguém abuso.
O meu dia, plena sexta feira,
Promete prazer e muita diversão
Se o sol continuar bater na beira
Da minha janela, o coração.
Olho e vejo o telhado vizinho,
Sinto a falta daquele abacateiro
Que retinha a luz do sol sozinho
Protegia o quarto o dia inteiro.
Hoje o sol ganhou mais espaço
Para invadir o quarto até o leito,
No verão maior fica o seu braço
Para abraçar sem preconceito.
No inverno, sei, vou te adorar,
Ó luz do sol, forte fulgente!
Pena esta estação não demorar,
Logo passa e tudo fica quente.
Mas olhando muros pelados
Sem o verde frondejante do abacateiro
O clarão de raios espalhados,
Tudo fica em branco paradeiro.
Não ouço as aves cantando la fora
Sentindo falta de seus ninhos,
Mas a manhã de tristeza chora
Por não mais ouvir seus passarinhos.
(YEHORAM)