SOLITÁRIO ESTROPIADO
S O L I T Á R I O E S T R O P I A D O
Você é a única vencedora
Fui inocente e não percebi seu ardil fatal
Ufanava sinais em baforadas singulares
Um bafo de salmoura vence o embate final
Às cegas rebate-te dos amuletos
Deixa crescer a vontade de querer
Tempestades de areia caem nas tardes
Para ti sou menos que nada
Não sentes a minha ausência
Nem sabes da minha existência
Naufrago no meu destino de perdedor
Fui imprestável e não soube me defender
Oh criatura! Proclamo em mim hematomas
Triunfante me afunda o látego
Sereno meu corpo absorve a dor
Na cama ganhas meu perdão
Deitamos em aveludados lençóis
Furto-me descontente ao seu governo
Aprendi contentar-me com o pouco
Regaste minha vida com tóxicos
De azul meu céu foi tingido de rubro
Perdi o esplendor e me tornei abatido
Também pudera!
Meus poros vertem sangue
Minhas veias secaram até o plasma
Seu amor me queima
Ardem em mim as feridas oxidadas
Ignota chama!
No afã de seu favor obtenho a queda
Medram sombras e mata a lealdade
Sou solitário estropiado
(maio/1988)