A uma mulher na mesa da cirurgia plástica
Entrega teu corpo fácil, amiga, à faca.
Arrisca-te à morte, por amor à vida?
O que devolve a juventude, te mascara
E o que suaviza a ruga hoje é a ferida.
Não compreendo bem porque se’apaga
Esta tua face cheia de força, transida
Para esquecer a dor passada, temida’e
Esticar a hora desta eternidade fraca?
Ilusão! Quebram-te’o espelho. E por quê?
A juventude é um resvalar sem rumo,
Carregado das dobras da dúvida e prazer.
Sus! A velhice é só um nada de chumbo.
Só há uma coisa mais suave do que ser:
Não ser! Queres cessar este ciclo mudo?
Sorri! Sempre ser é ser tudo, não parar.