CHÁCARA
O galo canta no galinheiro
(Eis aí a madrugada);
As vacas mugem no mangueiro
(Hora de tirar o leite);
As galinhas cocoricam no terreiro
(Catam os grãos de milho);
Os cachorros ladram ferozmente ao pé do portão
(Um gato lhes escapou para o alto).
Tossir de homem na bica d’água,
Ruflar de saias na cozinha,
Tinir de copos na pia,
Aroma de café na casa...
Toque-toque de machado na mata,
E de martelo na cerca,
E de enxada na horta,
E de massa na mesa,
E de botas no chão;
Ciciar de brisa nas avencas
E nas folhas reluzentes
Do bambual.
Chiar de carro de boi na estrada,
Carregado de lenha,
Carregado de milho,
Carregado de cana,
Carregado de sal.
As ovelhas balem no cercado
(Sentem o cheiro da raposa);
O cavalo relincha no pasto
(Goza a momentânea liberdade);
Os porcos grunhem no chiqueiro
(Não há lama para todos);
As araras grasnam na macaúba
(Com o alicate dos bicos partem os frutos).
E no final avermelhado da tarde,
Antes do acender das estrelas
E dos vaga-lumes,
O tibum dos meninos
Na água fria do regato...