A CASA
Na casa onde se instala o poeta
Os sentimentos sobram entre os cõmodos
Abarrotados de sonhos.
Onde começa e termina a casa
Nem se sabe.
Nela nada é imutável,
Mudo tudo de lugar
Conforme a alma e o humor
A casa nunca será precisa
Moro porque gosto
De ouvir o concerto da água do pote
Plim..plim..plim..plim...
Lá na cozinha
De vestir a mesa de jantar
Sempre à espera de treze pessoas
Como uma Santa Ceia
No meu quarto
Apenas a rede branca
Corta o ambiente
E embala o cansaço e os sonhos
As vezes
Derrubo o calendário da parede caiada
De propósito
E o tempo se espalha no chão.
Há risos de crianças na casa
Quebrando o silêncio do concreto.
O sótão
Armazena o sol
Entre as ferramentas frias.
A casa onde se instala o poeta
Coleciona amores e risos
E um lance inacabado no quintal
Sugere reticências
E sempre aguardará a conclusão do projeto.