De amor sem título

Eu procurei canções,

cores para desenhar meu sentimento,

eu procurei lembranças,

cheiros e gostos e fotos e sons,

um brilho que se comparasse aos seus olhos,

eu procurei um lugar tranquilo,

uma solidão quase religiosa,

onde eu pudesse ficar a sós com meus pensamentos de você,

onde eu pudesse sonhar seu amor em paz,

um espaço no tempo tão escasso,

um minuto na sua vida,

um breve momento de sua companhia,

um leve toque da sua alma.

Eu procurei...

Eu procurei demais,

mas eram tantas canções,

tantas cores, sabores e sons,

e eram tantas lembranças,

e mais tantas...

e nenhum lugar era tranquilo.

Meu estômago irritou-se

e mais nada eu vi de real.

Eu caminhava às cegas por um mundo estranho,

tinha frio e você parecia estar perto,

sua imagem se desfazendo,

sua alma me tocando,

senti seu toque,

seu olhar invisível na imensidão do sonho,

eu senti seu sentimento,

respirei seu ar e suei o seu suor.

Eu não sou mais tanto eu,

não mais que um querer

e mais ainda um bem querer.

Bate meu coração inquieto,

pulsa a saudade da sua presença,

a saudade, sim...

a saudade do seu gosto,

o gosto de te gostar tanto assim.

A tarde é lenta,

a vida passa sem passar,

sem chegar a hora de eu ver você.

O sol corre lento,

o céu é claro e a brisa é fria,

a noite não vem expulsar o dia...

onde você está?

o que faz nesse minuto lento?

será feliz onde pisa?

lembrara de mim alguma vez?

Me será concedido deixar o sonho...?

O sonho é belo, sim,

mas belo mesmo será o momento certo,

a lua é bela,

mais bela que a morte.

Espero um verdadeiro sol.

Espero a madrugada sagrada,

Espero...

e enquanto espero, escrevo.

Mas eu estava aqui vagando,

vagando entre lembranças e vontades,

pairando no tempo suspenso,

no espaço imenso,

sonhando seu corpo e sua alma,

sonhando somente um gostar sincero,

uma saudade e um pensamento...

Sonhando demais.

Trabalhando de menos.

Eu procurei um tempo para nós,

uma hora para mim,

um momento para você.

Eu procurei, revirei meu quarto pelo avesso,

corri ruas, bati em portas que se me bateram,

chamei, gritei, sussurrei, pedi.

Mas, não... não pude encontrar.

Te gosto tanto...

Que o vento traga você pra mim

nas primeiras brisas da noite...

então, sim.