Marinheiro 

Quando criança,
ser marinheiro eu sonhava.
Crescendo, esse desejo eu fomentava...
Numa noite, longa noite a sono solto,
marinheiro sonhei que eu era,
suspendendo de um porto,
num imponente navio de guerra.
Ao despertar, o dia repontava,
era manhã, início de primavera.
Crescendo, ia... E, crescido,
para o dever me preparava.
Ah! Quão ansioso aquele sonho me fizera!
Ser marinheiro sonhei,
um bom marinheiro eu fui.
Por muitos mares naveguei.
Mares verdes, límpidos e azuis;
em muitos nortes, tantos rumos,
muitos suis...
Em longas noites de boas luas,
nalgumas sem luar...
Desafiei mares revoltos
com meu navio a trepidar,
cumprindo a derrota traçada,
no rumo certo a aproar.
Demandei belos horizontes
que teimavam em provocar
minha náutica, minha proa
que, incisiva, revidava
cortando as ondas sem cessar.
E tenazmente eu navegava...
Vencendo tempestades,
impetuosas vagas
que se esmoreciam num espraiar.
Sim, eu naveguei,
contra o vento perpassando,
estrelas e noites testemunhando,
até o dia despontar.
O frio me açoitando,
o vento, a marulhada...
Vivenciei tardes cinzentas,
com chuvas e trovoadas.
Dias claros também houve,
com o lumeeiro a deaurar,
espargindo sua magia e
a calmaria fazendo reinar;
daqueles momentos em que se ouve
das aves, o chalrear,
em bando, monte delas,
num belo e lúdico esvoaçar.
Por sorte, por vezes, era assim:
meu navio em calmaria,
flutuando até o atracar.
No porto, mais seguro eu me fazia,
mas logo, logo outra tormenta
meu peito vinha açoitar:
era a saudade da minha amada,
que sozinha em nossa casa,
ficara triste a chorar,
longe, bem distante do meu barco,
que dentro em breve, iria voltar...
Ah! Quão ansioso, então, eu me fazia!
Queria depressa singrar os mares,
rumar de volta à base,
ir para os braços dela.
Isso, o que me importava!
Que fossem bramosos mares!
Somente pensava nela,
que a me esperar estava.
Só queria chegar em casa
e ficar lá dentro dela,
nos braços de quem me amava...
E não havia coisa mais bela!
... ... ... 
Cessada a quimérica viagem,
cumprida a naval missão,
marinho agora em certeiro rumo,
ao porto mais seguro:
minha amada, seu coração.

Imagem: o autor, em momentos de sua vida militar na Marinha do Brasil, no período de 1979 a 2004 (de Aprendiz-Marinheiro a Suboficial).