E como tenho saudades...
... do rugir da porta torta da cozinha
do cheiro da comida caseira
do zumbido das pipas alçadas
do som da chuva no zinco
de espreitar a lua nascendo cheia
do apito sem fôlego da velha barca
das cadeiras na calçada
das batatas assadas na brasa
da rua crua e descalçada
da poeira do barro
e da ausência de buzinas e carros.
Tenho saudades...
do cheiro de armazém dos armazéns
do galo, pontual despertador
da melodia do sabiá laranjeira
do trincado metálico da araponga do vizinho
do silvo soturno do guarda-noturno
Tenho saudades...
do cheiro da infância modesta...
de um tempo amante,
tempo de aventuras
sem agonias
e que corria devagar.