A Balada do Poeta Ébrio
Gosto dos inebriantes, dos entorpecentes,
Da leviandade dos etílicos e etéricos.
Da pureza de corromper-me
Com a liberdade venenosa.
De sacrificar mera carne
Pelos prazeres de-uma-noite.
De quebrar muros, enfatizar sonhos
E ver o invisível inexistente.
Pois tais prisões são libertadoras
E as outras são autoritárias
E as lentes delicadamente lisas
São aquelas que não se (ar)riscaram de oportunidades.
E dou graças ao pai desta ovelha desgarrada
Ao saber que jamais chegarei novo aos 50
Sem ter vivido pelomenos 20,
Sem ter saido das velhas grades
Do velho berço.
E abençoado seja o fluído da chuva dos loucos
Com a graça e a genialidade
Dos (in)sanos infantes
Que morreram de overdose.
E que fique claro que
O homem cria remédios para sobreviver
A sua criação feroz.
Então, que sou eu além de um remediado, de uma cobaia curada?!
E quando o túnel das pupilas se abrir
Tornarar-se-a largo e anestesiado
Para o violar de meus olhos cândidos
Com as impurezas artificias do mundo.
As lágrimas a escorrer terão gosto forte-amargo
E percorrerão minha face
Denunciando o cego epilético que sou,
Que são os bixos-homem.
E apenas me restou engarrafar a poesia
E ingeri-la, e digeri-la, e vomita-la
E acabar-me num obsoleto livro
De poetas anônimos.
E assim, e-portanto-e-então
Acabarei como um deturpado,
Um perturbado nos sanatórios da "realidade";
Um drink composto das patologias mais cruéis.
Um drink que jamais seria consumido
Por ser subjulgado por cadáveres artificiais
Que nunca chegaram a viver.
E sem me importar, eu, bebida dos boêmios decadentes,
Vou para o fundo da prateleira sem ao menos dizer:
"De nade vale julgarem as tumbas
E os restos mortais que as hatibam.
Corpos são corpos,
Uns viiveram até o fim
Outros de suas tumbas nunca sairam."