DEVANEIO I


Vejo-me em um labirinto de cordas
Que entrecortam os meus pensamentos
E como anéis, preso agora,
No arrebol dos ventos...
Solto-me e parto.
O vento vai, o vento cai
A neblina leve, branca, tênue
Molha flores e restos de areia...
Não sei se olho,
Não sei se exorto,
Esse momento...
Só sinto elos, chuva.
Gotículas orvalhadas
A me encobrirem...
Não sei se ouço,
Não sei se padeço,
Só sei que mereço,
Esses pingos da hora
   Hora boa,
Hora que canta,
Sonhos perdidos...
Da aurora que balança
Por vezes fria,
por vezes longínqua
Por vezes leve... 
E que me abraça
Gélida e com mãos pequeninas...
No frêmito do relógio do tempo
          A embalar:
Vento, chuva, pingos, hora
Que somatizam sensações, lembranças...
De tempos áis...
Entre cordas, anéis, vitrais
E como prisioneiro mor,
Revivo, insisto, grito.
   E, como nau...
Agrido e corto
  O silêncio...
Que não cala
Dentro de mim
Simplesmente!