RECLAME

Não quero silêncio nem

Aquietação,

Quero grito!

Sou surdo como um poste

Grito

Não aquiete-se, reclame

Como um revolucionário

Como um anarquista

De tudo, reclame

Pela água suja

Pelo embuste

Pelo desgosto

Pela paz imposta

Pelas respostas não

dadas

Pelas perguntas não

feitas

Pelo vigilante na espreita

Pelas portas fechadas,

reclame

E quebre-as

Pelas janelas sem visão

para o mar

Pelos caminhos tortos

Pela comida podre

pela falta de pão

E chão na caminhada

Pela madrugada sem

sono

Pelo riso insosso

Pelo medo no rosto

Pelas frases sem nexo

Pelo beco sem saída

Pela dor de barriga

reclame

Pela pressa no sexo

Pelo distúrbio na mente

Pelas correntes nos pés

Pelos anéis nos dedos

Pelos pecados na mente

reclame,

alto e sempre

Depois durma o sono

Dos justos, e aquiete-se

Silenciosamente.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 30/03/2011
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