RECLAME
Não quero silêncio nem
Aquietação,
Quero grito!
Sou surdo como um poste
Grito
Não aquiete-se, reclame
Como um revolucionário
Como um anarquista
De tudo, reclame
Pela água suja
Pelo embuste
Pelo desgosto
Pela paz imposta
Pelas respostas não
dadas
Pelas perguntas não
feitas
Pelo vigilante na espreita
Pelas portas fechadas,
reclame
E quebre-as
Pelas janelas sem visão
para o mar
Pelos caminhos tortos
Pela comida podre
pela falta de pão
E chão na caminhada
Pela madrugada sem
sono
Pelo riso insosso
Pelo medo no rosto
Pelas frases sem nexo
Pelo beco sem saída
Pela dor de barriga
reclame
Pela pressa no sexo
Pelo distúrbio na mente
Pelas correntes nos pés
Pelos anéis nos dedos
Pelos pecados na mente
reclame,
alto e sempre
Depois durma o sono
Dos justos, e aquiete-se
Silenciosamente.