O VERMELHO
Você não viu nada!
Nem você!
O vermelho é viscoso
Escorre abundante
Em rasgos ou retos
Estilhaços de bombas
Quente que areia se quebra
Pedra que queima pedra
E deixa cego em ardente visão
Cegueira que a tudo enxerga
Visionário pagão
Antes da especiaria
Visão de dentro para trás
De um verme ainda vindouro
Que teima pela Terra do Fogo
Entre o gelo e a Patagônia
Valha-me até Tupã
Ali, Alá, Deus ou Buda
Dança dos gregos em Creta
Uma nova Circe na Terra
Atrás do errante Ulisses
Pragas com as "Parcas" soltas
Esse deserto que cinge
Em vermelho que brota escuro
Erra entre "sadânicos"
E uma "Amérika" que vira cruz
Estouro nuclear, sobram índios
Usando uma linguagem antiga
Que fala da origem do genoma
Da nave que esconderam
Bem debaixo da Atlântida
Ah! como queima essa areia
Lacunas de uma velha rainha
Um par de calças
Depois da "dama de ferro"
Estragos vindos das cavernas
Até para andar nas estrelas
Outros hunos entre a pax romana
O timoneiro se revira no túmulo
Língua de faraó solta
Filisteus para uma Judéia parida
Tão vermelho, areia em cruz
De hirtos sítios de silício
Um grito solto na rede
Encapuzados queimando
E falam em nome de paz
Crianças distorcidas
Em vozes sempre mudas
Mais uma noite mal-dormida
Desilusões filosóficas
Cadê a igualdade?
Liberdade?
Fraternidade?
Tiraram a máscara de Stalin
Casa grande regada em pó
Toda cor em pele exposta
Pestilências na boca do dragão
Quantas cruzes terão de plantar?
Acho que esqueci alguma coisa
Céus, tanta fumaça no ar
Pilhéria sobre ânforas distintas
Escárnio com Dante preso na terra
Segredos desvendados
Sete são as chaves, iguais em círculos
Iluminuras, sinais da nave
Simples e justos
Fantasmas retornam do passado errante
Essa mentira que se repete
No mercantilismo da notícia
Forjadas em labaredas
E segura sua ignorância interior
Desligaram a voz da música
Bem que black bird avisou
Um espelho de água em Taj Mahal
Afrescos da Capela Sistina
Da águia que caiu da montanha
Outra novela entre fiéis e pagãos
Amarelo abre os olhos
Verde entre as cinzas
No suco das papaias,
Caules para os últimos pandas
O lixo comendo toda a água
Hoje não tem mais dinossauros a extinguir
Gás liquefeito acelera fusão
Aí, como me dói o pescoço
Descarnados, tijolos partidos
Paricidas de ordem unida
Sobras entre moscas e ratos
Gritos noturnos, celas vazias
Atônitos pelo clarão que passa
Vamos enfiar a cara na terra
E comer o último grão
Tudo caiu em um deserto
E até levantar o próximo vôo
A nave vai colher o meu choro
Antes que a última lágrima também seque
Abriu a porta e foi para a rua
Uma Lua se dividiu em duas
Depois de Vega, eixo setentrional
A máscara caiu
Outro choro em frase mal dita
Enquanto peço socorro
Na floresta que transcede
Pelos sinais que ainda não vimos
Pedras brancas, casas pretas
Inverno sem florais de outono
Arranjos para novas harmonias
Escaldantes bravatas e outros fados
Reaparece um deserto na Mesopotâmia
As caras dos hunos em novas mídias
Espadas & bruxarias
Saindo dos quadrinhos
Arrivistas gritando em nome de uma fé
Distorcidas ilusões do cotidiano
Qual é preço da vida?
Verbo intransitivo suspeito
Pela ortografia banalizada
Lastro de balão, ensaio químico
Drogas distintas queimando jovens
Onde alguma coisa busca sentido
Entre a guerra e a paz
A Lua passou.
Vermelho ruge na areia
Que venha Marte
A pele está solta no ar.
Apaguem o pavio!
Peixão89