#(((((:::::FIM DO AMOR:::::)))))#

Olá, anjo !

Espero que estejas bem, e de certo deve estar. Escrevo-te não pra chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não fui amada, pelo que tentei ser correta e não foram comigo. Não te escrevo pra lamentar, pois o lamento não muda o tempo, tampouco o momento. Por mais que meu coração sangre com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso gritar, pois esta dor é só minha.

Compreendi que a única magia que existe e persiste é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão. Apesar da minha fragilidade e às vezes até infantilidade – de tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Parada atrás das vidraças, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocássemos cartas, telefonemas noturnos, cristais e encomendas por sedex (...) talvez ficássemos curados, ao mesmo tempo ou não. Mas um partiu, e o outro ficou. Talvez eu não lhe veja nunca mais, com olhos que enlouqueceram de amor...

Quando você partiu de mim, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto e completo, partiu. Assim foi... assim estava escrito.

Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraca para entrar. Acredito que, à medida que vou vivendo, andando, viajando, vou ficando mais estrangeira de mim. Ando meio fatigada de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis. Meu coração tá ferido de amar errado. Mas não te culpo, afinal ninguém é obrigado a amar ninguém. Cansei de viver pra acumular memórias e afetos, afinal não há nada pra ser esperado, tampouco desesperado. Cansei de construir e demolir fantasias e sonhos (de construir castelos dourados)...resolvi que não quero me encantar com ninguém. Quem diria que um dia eu fosse me ver dizendo isto?! Logo eu que sempre fui uma sonhadora, uma romântica incurável!

Tudo já passou e minha vida não passa de um ontem não resolvido. Teu único gesto é o silêncio que nos afasta pra sempre. E diante disso me questiono: " Será que de sincero houve algum sentimento, por menor que seja?"

Por essa razão escrevo. Para mim, atualmente, companheirismo e lealdade são meio sinônimos de felicidade. E não quero ver-te como uma dolorosa lembrança, que me fará descrer do ser humano.

Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fico horas sem pensar absolutamente nada: (...)

Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda mas, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais. E repito pra mim mesma, está tudo bem, tudo bem(afinal não sou dada a vitima)...

...sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, mas confesso como você me doía de vez em quando ...

... Tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso,...."deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?"

Depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.Afinal há coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma?

Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, temos - emoções.

Então penso: quando você não tem amor, ainda temos as estradas.

Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, somá-las, diminuí-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto!

Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como outra pessoa, ou, o tempo todo, como uma possibilidade de um amor real. Estou tentando ser honesta e limpa. Uma possibilidade que eu precisava devorar...

Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. Às vezes a gente vai-se fechando e tudo fica muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas.

Quem diria que viver ia dar nisso?

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você viesse ao meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu!

Recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência. É por isso que me esquivo e deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam - e queimar também destrói.

Pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é, você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que um silêncio basta. É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão. Só não vou perguntar por que você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo...

Por fim, lhe digo : desejo-te o melhor do melhor, pois não sei amargurar as dores...afinal o amor nasce do carinho e da amizade ...e meu carinho sempre foi sincero e puro.

Desejo que obtenhas tudo o que desejas, que sejas feliz nesta tua caminhada. Desejo-lhe de coração aberto na verdade que vivo, pois não sei ser de outro jeito. No mais também lhe agradeço pela tua passagem em minha vida, e tudo que aprendi no meio das inconstâncias... De certo hoje sei que subi mais um degrau na escada da vida e que toda e qualquer dor nos serve de aprendizado e crescimento. Então obrigada por me fazer crescer, amadurecer e olhar o horizonte com olhos menos amenos e mais plenos de tudo.

Atenciosamente

Dama da Poesia

( POR MAIOR QUE SEJA O AMOR - É MELHOR ABANDONÁ-LO E SEGUIR, DO QUE CONTINUAR E CADA VEZ MAIS SE MACHUCAR)

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 29/03/2011
Reeditado em 29/03/2011
Código do texto: T2877481
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