SOMBRAS
À luz plúmbia da madrugada
vindas da Terra dos Sonhos,
há sombras que dançam,
altas, esguias, belas, feias...
brancas, azuis, vermelhas, medonhas..
há fadas, duendes, fantasmas...
há medos que tomam corpo e se insinuam
devagar, subtis, nos pensamentos...
há gritos, risos, gargalhadas, tropelias,
lágrimas secas, que queimam
enquanto rolam, silenciosas,
pelos rostos adormecidos.
São sonhos, pesadelos, ansiedades
que povoam e agitam as noites...
causam dor, espasmos, tormentos...
Rasgam o íntimo, ferem sem dó...
Mas o dia, mansamente,
vai chegando na cor rosada,
que aclara a cada instante.
E as sombras, cansadas, vão adormecendo
vencidas, aninhadas na gaveta dos delírios,
envoltas nos lençois do desassossego,
abraçadas aos companheiros de folia,
arrumadas no quarto escuro do inconsciente.
Lentamente, libertos das sombras,
os olhos vão-se abrindo, serenos,
à luz que se repete a cada dia,
prontos para novas realidades.