Poesia nossa de cada dia

A poesia não pode ter fim,

é infinita,

assim como é infinito o amor,

e as estrelas,

e os grãos de areia,

e o sangue que corre na veia.

Assim como é infinita a arte,

que surge de toda parte,

no meio do povo,

no meio da rua,

no meio do mundo,

no meio, no centro, no canto.

No canto da sala,

no cantar do pássaro,

no canto afinado do cantor,

que traduz sua história,

relata fracasso e glória,

expõe sua dor,

e enfatiza o amor.

No meio da poesia há um canto de amor.

A poesia-miséria,

que traduz entre-mentes,

a seriedade risonha da gente,

que permeia a estrada,

que semeia,

e dá frutos,

e dos frutos,

nasce nada.

E este nada acontece,

e ramifica, floresce,

e cresce no peito da gente,

a poesia-miséria,

produz nada,

para alegria do mundo carente.

Há a poesia risonha,

que nos conforta,

enquanto a gente dorme,

e sonha,

e sonha com nada,

da poesia-miséria,

que se mantêm longe,

e séria,

e rindo da gente.

Apesar de ser infinita,

a poesia só tem uma cara,

tem cara de gente sofrida,

de tez colorida,

de calos nas mãos,

e pernas doloridas,

e o peito aberto em feridas.

de braços e amores,

luares e cores,

e cheiro de gente,

que faz cortes na terra,

introduz a semente,

e faz brotar a vida,

prá casa barrenta,

retorna depois da lida.

A mesma cara tem,

o homem de gravatas,

de formas abstratas,

de sapato de couro,

relógio de ouro,

um carro na garagem,

um barco no ancoradouro.

A mesma cara tem,

a poesia,

que vaga á noite,

traduz-se ao dia,

que com o sol se levanta,

e a todos encanta,

e mesmo na manhã fria,

faz nascer a magia.

E mistura as cores,

inrrompe em amores,

transforma a notícia,

e desfaz a tristeza,

e a compara,

á magia e beleza,

que eu tenho certeza,

está na forma abstrata,

do humilde da terra,

ou no senhor de gravata.

Na cara do homem de gravata, há a poesia do homem da terra.

Se queres entender,

que entenda,

se não queres, apenas leia

"O que é isto, companheiro"?

queimar Índios,

dizimar aldeias?

somos irmãos da mesma terra,

da mesma teia,

não é igual,

o sangue que corre na veia?

Isto é terrível,

elimina a magia,

desfaz a poesia,

desfaz a beleza,

tenho acertada certeza,

que quem comete tal crime,

de uma coisa tão séria,

é o retrato falado,

da poesia-miséria.

A poesia-miséria tem como alvo, a dor aguda do Índio que padece.

E a poesia é assim,

toma tantas formas,

e nunca chega ao fim.

Ao fim do ano,

ao fim do poço,

ao fim da vida,

do poeta moço,

que agora agoniza,

num leito em prantos,

a doença oculta,

lhe traz acalantos,

e o agoniza,

e o choro sem lágrimas,

sem soluços, nem nada.

Assim com as aves,

que não tem ninho,

nem nada,

mas vivem voando,

evitando a estrada,

da vida do moço,

que não é poeta,

mas faz arte com a mão,

e frutifica a terra,

e produz nosso pão.

Do Pão nasce a poesia.

O início de tudo,

é o sorriso da terra,

quando a chuva a abraça,

do calor sai fumaça,

e da incrível fusão,

do choro dos céus,

e da acolhida da terra,

acorda as sementes,

e de verde tapete,

reveste o chão.

Tímida e cega,

a semente arrebenta,

e com uma verde mãozinha,

acena para o sol que aparece,

e pelo alimento solar,

ela sorri e agradece.

E segue caminho,

já moça feita,

como sorriso tristonho,

aguarda a colheita.

A dor quase sempre, nos inventa o amor.

E tempo depois,

já passados seus dias,

nem mais lembra o aceno da mão,

agora, exposta na mesa,

de vegetal, transformou-se,

em pão.

E já passados seus dias,

fartará ao poeta.

que após o cigarro,

e ajudado por ela,

fará lindas poesias.

Ficará na lembrança,

o aceno criança,

e dias mais tarde,

a mocinha que dança,

ao som da ventania,

que a balança,

de noite e de dia,

e explode a magia,

e para o poeta,

será infinita,

como o é,

a poesia.

O pão nosso de cada dia, nos traz a poesia de todo instante.

Antônio Beatriz
Enviado por Antônio Beatriz em 29/03/2011
Código do texto: T2877174
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