À SOMBRA DA CRUZ

De portas no chão abre-se para o sol

da noite, como um discípulo puro e

sábio, cego pela luz que o conduz

em intervalos de solidão.

As asas tortas afrouxam o riso e

distraem o caminho condutor das

margens densas, que por legendas

mostram o encontro da foz com o cais.

Os sonhos são atormentadores

e abrilhantam as dores da provação,

ais da glória que apodreceram

e dobraram os joelhos a aguar

as flores do jardim celestial.

O caminho está morto e os sonhos

num poço de interligação,

raios-elos e sonos belos

em berços eternais.

Não há luz no túnel, nem intenção.

O espelho nega o foco e enterra o

tom da porta aberta,

e dormirá pelo brilho do raio que

cortará o teto e alimentará a carne,

sublevando-a pela mágica do ventre

gerador, e não se sentir é um dom.

O espelho corta os pulsos

e rasga a luz

e suja o sangue do chão,

e molha os pés no cais...

dorme e ri à sombra da cruz.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 29/03/2011
Código do texto: T2876577