PLANTÃO DO ÚLTIMO SONHO

Um dia ainda ouviremos no noticiário...

Que o crime mais hediondo

Nos últimos seis meses

Foi um beijo

Que o namorado

Roubou da namorada

Matando de amores a coitada!

Que a violência mais comum nos últimos meses

Em nosso cotidiano

São os abraços apertados

E os beijos sufocantes, asfixiantes

Nos quais os apaixonados

Se submetem

Que a pior tragédia ocorrida nas últimas semanas

foram as balas de caramelo perdidas

E devoradas pelas crianças

Que não almoçaram por causa destas guloseimas

Que estourou uma guerra de papéis, confetes e serpentinas

No meio da rua

Tornando a alegria e o riso

Caóticos e incontroláveis

Que uma nova epidemia incurável ataca a população:

A gripe, a febre, a pandemia da alegria

Que uma nova greve de tristeza e solidão

já dura toda uma eternidade

e jamais acabará!

Que um incêndio de felicidade

tomou conta da rua, do bairro,

do quarteirão, da cidade

do país e do mundo inteiro

Que a fome e a miséria foram assassinadas

pela justiça e sua cúmplice: a igualdade social

e que através de um hábeas corpus do coração

o advogado amor

libertá-las conseguiu.

Enquanto todos dormem

Os poetas preparam

O despertar

Notícias como estas

Fazem a alma

Suspirar