SE PREOCUPE, SE ENCONTRE...
Num lugarejo distante
Existia um cidadão
Porém era muito pobre
Mas de grande coração
Muito pouco ele falava
E de nada reclamava
Daquela situação
Nunca foi a uma escola
Não havia no lugar
Trabalho não existia
Pra poder se sustentar
Vivia fazendo prece
Talvez se a chuva viesse
Ia a terra cultivar
Ele era diferente
Do povo da região
O seu casebre era limpo
Sempre varrido seu chão
Na sua casa quem ia
O pouco ele repartia
Dividindo com o irmão
Seu quintal era florido
Dava gosto de se ver
A natureza fazia
Questão de ali viver
Tanto a fauna, quanto a flora
Não escolhia a hora
Para o seu lado crescer
Tinha respeito as crianças
Todas lhes queriam bem
E as mulheres casadas
As respeitava também
Só tinha a noite e o dia
Mas vivia com alegria
Mesmo sem ter um vintém
E muitas pessoas vinham
Sendo de longe ou de perto
Conversar com aquele homem
Que sabia o que era certo
Entender como fazia
Ver como se dividia
Um pão sempre tão incerto
Trazia um sorriso aberto
E um aperto de mão
Quando via alguém sofrendo
Cortava o seu coração
Dizia que pra viver
É necessário aprender
Piedade e compaixão
Mas numa tarde fatídica
Aquele homem morreu
E muitas lições ficaram
Quase ninguém aprendeu
Talvez não haja maldade
E que a humanidade
Só enxerga o umbigo seu
Talvez se fosse um cantor
Um político, ou um artista
Ou até pousasse nú
Numa capa de revista
Todo mundo lhe amasse
E nele se baseasse
Todos os pontos de vista
Quem era essa criatura?
Todos queriam saber
Não enxerga quem não quer
Não consegue perceber
Tal pessoa enternecida
Permanece adormecida
Dentro do seu próprio ser.
Dalvalene Santos