A FLORICULTURA

Numa chuva de entardecer,

Fui colher numa vidraça embassada

Um sorrir de mãos delicadas, assim

Contornando um esmero de pétalas,

E, sem querer, me perdi...

Seriam apenas aqueles dois olhos

e só mais um verso...

Mas, plantou um joelho no chão,

E os dois braços e a imensidão

mostraram uma clareira sem fim

Na qual, me deixei e me perdi

E desta vez eu fui sedento...

Com as mãos em concha

Eu desagüei toda minha nuvem

Regando a plenitude daqueles

altares e vales em curvas

E me escorri com um rio...

Seco e já sem rumo...

Agarrei-me ao caule

Daqueles bicos sublimando,

Para tentar beber o orvalho

Pingado suave no chão...

Mas, só absorvi encantamento.

Lambendo meus próprios versos

Como as águas que vertiam

da minha mão.

Por fim,

Na estiagem,

Ela acenou para mim...

Enquanto eu matava a sede

Com a boca toda enfiada

Na sua orquídea rosinha

Buscando com a língua

A última gota daquele

Nosso romance

de chuva.