GÊNESIS
Escuro...
Suguei o sopro das sombras,
Joguei-as na garganta soterrando com palavras veladas
E as engoli, vagarosamente...
Sem qualquer pressa...
Enquanto abri os olhos...
Turbilhões de águas púrpuras
Sangraram sortilégios enrouquecidos
que me escorriam pelas nove retinas,
e me açoitavam o penhasco,
deglutindo-se, como queda...
Serena...
Ergui meu semblante...
E colhi nos bocejos,
Os ventos que se arrebentavam como algemas soníferas,
varando frestas da única janela pro universo,
E se partiam como placentas de almas
amontoadas nos lençóis e cobertores
dos meus sonhos...
Sentado no tempo, soei!
E soou, sou eu;
E sois homem!
Então, curvaram-se todos os ossos;
Contraíram-se as pratas;
Rangeram-se as coisas e todas as coisas,
E martelando-se, ferindo-se, cortando-se...
Num completo arre de sinfonice vil verbal!
Até arrancarem o silêncio
dos gemidos e grunidos, largados
nas fogueiras estranguladas que se acenderam
Sob meus pés latejantes. Flamejando, sujo, purulento,
implacável e esfomeado como quem cria um deus;
Como quem se escaravelha; Como quem trama;
Como quem escapa e clama... Fui sem você!
Emergindo e evaporando
Carcaças de lágrimas
Que brotaram sem
Ordens minhas
Como estes
Versos...