RIMAS DESENCONTRADAS ANTES DE UM ENCONTRO

Eu rio e tusso.

No soluço que o olho brilha

Chameja a trilha de diamantes brutos.

Eu fumo e rio e engulho

Numa cena ridícula,

E o osso da clavícula aparece

Quando só o que resta do dia

É o entulho de uma poesia

Que veio assim, sabe?

No meio do banheiro

Antes que eu ligasse o chuveiro

E limpasse da dor o meu corpo inteiro...

A casa, eu já limpei.

É muito mais fácil

De limpar do que a vontade

Do que a língua retrátil

Que eu teimo em não ouvir:

Ela quer o beijo!

Que cliché maldito...

Assim, fico com o grito engasgado

E fumo mais um cigarro

E bebo mais uma dose

Que já não me comove

Como antes,

No tempo dos meus amantes

Que me diziam que gostavam do meu cheiro

Mesmo que a vida já fosse uma cloaca

Com um fedor de bueiro e fumaça

E meu perfume fedesse a rosas

Quando tudo era uma promessa

Uma propaganda mais do que enganosa.

Assim, tenho que sair

O que eu tinha que sorrir

Já se foi

E restou o que eu ainda não chorei

Lá, no espelho do banheiro

Enquanto lavarei o cabelo

Sabendo que hoje à noite

Mesmo que o tédio seja frio como o vento em açoite

Eu serei enlaçada e apertada

E fingindo-me amada

Voltarei para casa

Para dormir,

Sem sorrir.

Iama K
Enviado por Iama K em 26/03/2011
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