RIMAS DESENCONTRADAS ANTES DE UM ENCONTRO
Eu rio e tusso.
No soluço que o olho brilha
Chameja a trilha de diamantes brutos.
Eu fumo e rio e engulho
Numa cena ridícula,
E o osso da clavícula aparece
Quando só o que resta do dia
É o entulho de uma poesia
Que veio assim, sabe?
No meio do banheiro
Antes que eu ligasse o chuveiro
E limpasse da dor o meu corpo inteiro...
A casa, eu já limpei.
É muito mais fácil
De limpar do que a vontade
Do que a língua retrátil
Que eu teimo em não ouvir:
Ela quer o beijo!
Que cliché maldito...
Assim, fico com o grito engasgado
E fumo mais um cigarro
E bebo mais uma dose
Que já não me comove
Como antes,
No tempo dos meus amantes
Que me diziam que gostavam do meu cheiro
Mesmo que a vida já fosse uma cloaca
Com um fedor de bueiro e fumaça
E meu perfume fedesse a rosas
Quando tudo era uma promessa
Uma propaganda mais do que enganosa.
Assim, tenho que sair
O que eu tinha que sorrir
Já se foi
E restou o que eu ainda não chorei
Lá, no espelho do banheiro
Enquanto lavarei o cabelo
Sabendo que hoje à noite
Mesmo que o tédio seja frio como o vento em açoite
Eu serei enlaçada e apertada
E fingindo-me amada
Voltarei para casa
Para dormir,
Sem sorrir.