Tinha dois dedos de poeira
As lembranças que fui visitar
A vida toda mofava inteira
Tinha uma certa dor no olhar
Não era mais este o lugar
E eu sabia de certa maneira:
Não era ainda hora de voltar

Essa noite um sonho estranho
A rua tão apinhada de gente
Todos aqueles rostos de antanho
Todos a me olhar diferente
Era uma solidão sem tamanho
Que eu nem parecia gente

Ali ninguém me reconhecia
E eu conhecia todo mundo
No entanto ninguém me via
No silêncio mais profundo
Eu só sei que escurecia
E eu morto ou moribundo

Vagava perdido desconsolado
No mundo eu não mais vivia
Tinha uma sombra ao meu lado
Que na desdita me seguia
Dizia que eu tinha sonhado
Que agora morto ainda vivia

Acordei e nada mais eu vi
No fundo da alma um arrepio
A morte próxima eu senti
A cabeça cair em rodopio
Adormeci de novo quando vi
A alma carregada por um rio

Entre a vigília e o sonho
O estranho pressentimento
Todo momento é medonho
A vida não passa dum momento
Como os versos que componho
Ainda em sonho e sem tempo
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/03/2011
Reeditado em 26/05/2021
Código do texto: T2868741
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