Orgia dos astros
"...À noite, cansada, teve que o partilhar com os outros amores de sempre. Era só hoje, pensou. Amanhã, daqui a uma semana ou a um mês, não se vai mais lembrar de pratas, nem de visitas tardias ao jardim da Estrela..." (Isabel Faria)
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Enquanto o passarinho carrega o verão
Nas suas enxutas asas,
Um sol ensandecido de paixão
Esquece os corpos na distante madrugada.
- A proximidade não significa amor!
Na solidão das areias silenciosas
Resguardam-se as pegadas
De homens casados de buscas.
- A liberdade tem ausência infinda!
Bem vindos à noite:
covil de amores (im)perfeitos.
- A alcova é o covil de almas ensandecidas.
Enquanto a sombra no cio prova da sobra
do sal da carne na orgia da madrugada,
Estrelas se confortam
No devaneio de amores desfeitos.
- E o efêmero é sempre eterno!
Abaixo da orgia dos astros,
Em corpos passageiros,
Sofre o excesso do tato
Que machuca almas descrentes.
- E a alma é sempre carente!
Nessa eterna orgia dos astros,
No compasso de seus rastros,
Haverá sempre a sobra do dia
de amores imperfeitos.
- E o perfeito será sempre afeito a defeitos!