OS URUBUS E A GARÇA
Era uma pedra, uma ilha
no rio largo que ardia sem
cheiro
fazendo espelho no dia findo
para o descanso da tarde
Leve chegou, já não sei de
onde, como sem desejo
trazida,
folha branca, névoa infante
nas asas do tempo a bailar
Pedra cor de pedra, verde-lodo
cinza sem cor, morada firme
em celeste
solo para o ancoradouro do
labor da cria nos ares a vagar
Raça, cor, espécie, o rio passando
em prece ao concílio da graça
no templo
livre da comunhão dos filhos
na congregação das águas correntes
Eram flores negras e branca
no jardim suspenso em lembrança
e água
alheias a mágoas, diferenças e
história de crenças ou desventuras
O sol, ainda dando tom ouro
às penas da garça, bailarina em
forma,
criança, sublime inocência na
tarde de chuva a correr descalça
e nas cabeças régias de pura
estirpe imperial na humilde
escola
vigiavam a aurora uns urubus
suspensos em singela órbita
Serena aula, crédulos olhavam
a fauna a colorir o entardecer
de lição
pedagógica aos doentes na convivência
harmônica e sã sem visão de outrora
As largas, fortes, leves asas, pluma
em longa direção espreitam
o alimento
puro. Agora fechadas, olham as águas
e bebem-na com prazer triunfante
Urubus e garça, força e graça
mágicos a andar em picadeiros
de imensa
corda firme na bamba história da
imaginação crua da humana raça.