OS URUBUS E A GARÇA

Era uma pedra, uma ilha

no rio largo que ardia sem

cheiro

fazendo espelho no dia findo

para o descanso da tarde

Leve chegou, já não sei de

onde, como sem desejo

trazida,

folha branca, névoa infante

nas asas do tempo a bailar

Pedra cor de pedra, verde-lodo

cinza sem cor, morada firme

em celeste

solo para o ancoradouro do

labor da cria nos ares a vagar

Raça, cor, espécie, o rio passando

em prece ao concílio da graça

no templo

livre da comunhão dos filhos

na congregação das águas correntes

Eram flores negras e branca

no jardim suspenso em lembrança

e água

alheias a mágoas, diferenças e

história de crenças ou desventuras

O sol, ainda dando tom ouro

às penas da garça, bailarina em

forma,

criança, sublime inocência na

tarde de chuva a correr descalça

e nas cabeças régias de pura

estirpe imperial na humilde

escola

vigiavam a aurora uns urubus

suspensos em singela órbita

Serena aula, crédulos olhavam

a fauna a colorir o entardecer

de lição

pedagógica aos doentes na convivência

harmônica e sã sem visão de outrora

As largas, fortes, leves asas, pluma

em longa direção espreitam

o alimento

puro. Agora fechadas, olham as águas

e bebem-na com prazer triunfante

Urubus e garça, força e graça

mágicos a andar em picadeiros

de imensa

corda firme na bamba história da

imaginação crua da humana raça.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 23/03/2011
Reeditado em 28/03/2011
Código do texto: T2865125