Carência do Avesso
Perdoe-me se te tratei como um menino,
Tentei ditar sua moda, sua postura e critiquei seus vícios,
Impus meus costumes e controlei horários,
Fugi de um afago, beijando-lhe a testa.
Sofro dessa carência estranha que reza por companhia,
Mas abomina o amor que limita e aprisiona.
Talvez eu tenha aprendido a gostar do jeito errado,
Por isso confundo zelo e controle com carinho.
Mesmo sem querer, apontei um por um os seus defeitos.
Quis acreditar que você era tão frágil quanto às vezes eu me sinto,
Para que eu pudesse guardá-lo em minhas mãos
Como um daqueles bonecos de biscuit.
Chamemos isto de carência do avesso.
Preciso transferir o excesso de atenção que recebo.
Apaixono-me pelas suas fraquezas na tentativa de consertá-las,
Mas acabo me tornando dependente das suas forças.
Seria insano eu me culpar por tudo.
Sei o quanto pedidos de desculpas me ofendem,
Pois só nos desculpamos por aquilo do que nos arrependemos
E não quero ser uma lembrança ruim para ninguém.
É mais fácil, portanto, encontrar em mim o erro.
Desta forma poderei tentar de novo,
Encontrar o equilíbrio e brincar de recomeço,
Mesmo que não seja com você.