ENTRE AS CORRENTEZAS E AS MARGENS

Do alto das colinas as águas são

belas, linha ondulada, cor de prata

nuvens mansas descendo o caminho

como manada domesticada,

seres dóceis entregues à redenção

Do alto são linhas vangoguianas

a tecer nas cores a história, viva

alma a conduzir suaves senhoras

sob algemas, olhos fechados

ao aconchego mórbido da prisão

As colinas são muros, girassóis

Campos coloridos, expressões de

phos no mármore do leito

- lá a luz tem olhos opacos –

onde há os atalhos para fuga

sem a dispersão dos animais

Os olhos vêem a dor, o choro no

Barulho que dá tom cinza

- ilusão de Guernica –

razão das linhas tênues da intriga

nos seios brutos da condução

Há amor e ódio e a cor bela

explora a tela na pureza da

imaginação, rendição da força

pelas mãos invisíveis das rochas

em um abre-alas que enforca

o desejo puro de libertação

A revolta desce caudalosa, exército

oprimido a espumar ira

em uma corrida sem fôlego

- animal agonizante –

cega fúria a derrubar muros de orientações

nas lições impostas a se ajoelhar

As telas mostram a beleza da força

as mentes imaginam o quadro

- beleza rústica da arte –

as águas correm intranqüilas

(febre das amarras nos pulsos):

e o homem bebe da pura fonte

com a margem colada ao rosto.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 21/03/2011
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