ENTRE AS CORRENTEZAS E AS MARGENS
Do alto das colinas as águas são
belas, linha ondulada, cor de prata
nuvens mansas descendo o caminho
como manada domesticada,
seres dóceis entregues à redenção
Do alto são linhas vangoguianas
a tecer nas cores a história, viva
alma a conduzir suaves senhoras
sob algemas, olhos fechados
ao aconchego mórbido da prisão
As colinas são muros, girassóis
Campos coloridos, expressões de
phos no mármore do leito
- lá a luz tem olhos opacos –
onde há os atalhos para fuga
sem a dispersão dos animais
Os olhos vêem a dor, o choro no
Barulho que dá tom cinza
- ilusão de Guernica –
razão das linhas tênues da intriga
nos seios brutos da condução
Há amor e ódio e a cor bela
explora a tela na pureza da
imaginação, rendição da força
pelas mãos invisíveis das rochas
em um abre-alas que enforca
o desejo puro de libertação
A revolta desce caudalosa, exército
oprimido a espumar ira
em uma corrida sem fôlego
- animal agonizante –
cega fúria a derrubar muros de orientações
nas lições impostas a se ajoelhar
As telas mostram a beleza da força
as mentes imaginam o quadro
- beleza rústica da arte –
as águas correm intranqüilas
(febre das amarras nos pulsos):
e o homem bebe da pura fonte
com a margem colada ao rosto.