CINCO FOLHAS CAÍDAS
Não era outono
Em chão de cimento
as folhas caídas, expostas
ao vento
davam sinais de cansaço
árvore alta, pele flácida
com pouca pigmentação
talvez virasse húmus
se em sublime viajem
alcançasse a terra de chão.
Eram cinco,
não era outono.
O sol dava sinais de
passagem
o tempo esfriava
inúteis estavam em berço
profano
o vento calava
a dor crescia.
As mãos estendidas olhavam
sem energia
não eram ímãs, eram folhas
irmãs vivas que balançavam
suavemente
embalando o choro da ilusão:
acariciar em seu colo filhas
mortas
a trazer sombra boa
e a expor à primaveril
brisa
em meados de estação.
O céu escureceu
as folhas acordaram em
desalinho
havia medo, insegurança...
novamente o tempo sossegou.
As folhas caídas estavam em
terra macia
a ressuscitar filhas mortas
e alimentar a terra de chão:
cama boa, mesa farta
silêncio.
Não era outono,
o sol estava se pondo
a trilhar seu caminho.
As folhas posaram tranqüilas:
seu túmulo era o berço,
o ressurreto húmus traria a
semente nova
da cova brotaria a prova da
transformação.
Dormiram tranqüilas com
música de acalanto.
Não se ouvia pranto
não se sentia a escuridão.
Viraram prumo, árvore nova
cresceram viçosas em sombras
de ilusão.
Eram cinco folhas caídas
Não era outono.
Viveram e criaram a estação.