CINCO FOLHAS CAÍDAS

Não era outono

Em chão de cimento

as folhas caídas, expostas

ao vento

davam sinais de cansaço

árvore alta, pele flácida

com pouca pigmentação

talvez virasse húmus

se em sublime viajem

alcançasse a terra de chão.

Eram cinco,

não era outono.

O sol dava sinais de

passagem

o tempo esfriava

inúteis estavam em berço

profano

o vento calava

a dor crescia.

As mãos estendidas olhavam

sem energia

não eram ímãs, eram folhas

irmãs vivas que balançavam

suavemente

embalando o choro da ilusão:

acariciar em seu colo filhas

mortas

a trazer sombra boa

e a expor à primaveril

brisa

em meados de estação.

O céu escureceu

as folhas acordaram em

desalinho

havia medo, insegurança...

novamente o tempo sossegou.

As folhas caídas estavam em

terra macia

a ressuscitar filhas mortas

e alimentar a terra de chão:

cama boa, mesa farta

silêncio.

Não era outono,

o sol estava se pondo

a trilhar seu caminho.

As folhas posaram tranqüilas:

seu túmulo era o berço,

o ressurreto húmus traria a

semente nova

da cova brotaria a prova da

transformação.

Dormiram tranqüilas com

música de acalanto.

Não se ouvia pranto

não se sentia a escuridão.

Viraram prumo, árvore nova

cresceram viçosas em sombras

de ilusão.

Eram cinco folhas caídas

Não era outono.

Viveram e criaram a estação.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 21/03/2011
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