A HISTÓRIA DE CARINHANHA.

Honorato Ribeiro dos Santos.

Eu vou contar pra vocês

E com toda exatidão

A história de Carinhanha

Terra que Deus pôs a mão,

Gente boa e hospitaleira

Deferente como irmão.

Foram índios caiapós

Os primeiros habitantes,

Que viviam em Carinhanha,

Bem antes dos bandeirantes,

Exploradores da terra

Em busca de diamantes.

O primeiro português,

Assim diz a tradição

Que chegou em Carinhanha

Com sua penetração

Foi Manoel Nunes Viana,

Português de muita ação.

Fez correr todos os índios

E tomando a nova terra

Fundou logo um povoado

E aos índios fez forte guerra;

A tribo foi pra Ramalho

E escolheu ficar na serra.

O Manoel Nunes Viana,

No Capão da Traição,

Assim narra a história

Venceu com exatidão,

Na Guerra dos Emboabas

Com base de operação.

Mil setecentos e doze,

Viviam aqui os nativos,

Chegou aqui um português

Abrindo-se um lenitivo;

Manoel Nunes Viana,

Um português bem ativo.

Assim que os índios fugiram,

Nessa terra ele habitou,

Aqui viviam umas “Aves”.

Como pássaro nadador

Voavam bastante alto

Como o pássaro condor.

A história diz seu nome:

Que chamava Carunhenha,

Elas desapareceram

Para bem longe, pras brenhas.

Desse nome deu-se a origem

Desbravando toda a grenha.

Alguns historiadores

Dizem com afirmação

Que “Loca de Sapo”,indígena,

É a sua interpretação

Do nome de Carinhanha,

Do Rio e da povoação.

Há divergência do nome

Por algum pesquisador

De lontra e peixe cari (Arinhanha, espécie de um cachorrinho que vive no rio).

É ele que é o consultor;

Porém ficou Carunhenha,

Que é uma ave voador.

À margem esquerda fica

Situada a bela cidade,

No Vale do São Francisco,

Bonita e sem vaidade,

Plácida e hospitaleira

Essa é a sua qualidade.

A elevação da Vila

Se deu a emancipação:

Dezessete de agosto

É a data e afirmação:

Mil novecentos e nove

O ano da confirmação.

No médio do São Francisco,

Distante de Salvador

Noventa e três léguas e meia

Em rota de aviador

Fica a velha Carinhanha,

A Princesa do amor.

Limita com as cidades:

Juvenília e Feira da Mata,

Malhada e Agrovila Nove

Distância mais é a Lapa,

Perdeu muitos municípios

Sete contados em Mapa.

A paróquia foi criada,

Padroeiro São José

Duzentos e trinta e dois anos (1779 a 2011).

Desde dessa data até;

Em dezenove de março

Todos festejam com fé.

São três os grandes festejos:

São festas de tradição;

A festa de São José

Há muita animação;

A do Divino há folclore

São festas de devoção.

Grande festa a do Divino

Quatro dias de devoção;

São Cristóvão é a mais nova

Das festas de tradição;

Segue a festa do Rosário, (Nossa Senhora do Rosário).

Santa Efigênia e procissão.

O folclore é a moda

No regozijo do povo;

Os caboclos e a banda, (dança indígena e a filarmônica).

Leva o rei, supremo gozo,

A bandeira do Divino

Aumenta a fé de novo.

A Senhora do Rosário,

Santa Efigênia também

Tem rei e tem a rainha,

Banquetes e leilão têm,

Cavalhada do Rei Mouro,

Todos juntos sem desdém.

O primeiro intendente (Prefeito nomeado).

Que em Carinhanha mandou

Sendo coronel prefeito,

Na data que emancipou,

Foi seu Francisco Timóteo

Carinhanha governou.

De mil novecentos e treze

A mil novecentos e trinta

A cidade não houve paz:

Jagunços armados, rixa!

Das brigas dos coronéis

Que tinham ódio fixa.

Depois veio então a calma,

O sossego foi geral,

A cidade transformou-se

Numa cidade legal;

Hospitaleira e amigável

Como em noite de Natal.

Fim de ano, que maravilha!

Às noites, que alegria!

Há contra dança, reis de boi,

Há zabumba e gritaria

De gente correndo louco

Brincando com euforia.

Em todo mês de janeiro

Todo canto da cidade

Há reisados e há ternos

Com jovens de toda idade;

Todos brincam, bebem, dançam

Sem nenhuma vaidade.

Quando chega fevereiro,

Carnaval é a tradição;

O povo fantasiado,

O Rei Momo e o cordão;

A rainha vai eleita

Com maior animação.

São quatro dias de festas

Sem nenhuma confusão,

Caretas em todo canto,

À escola de samba vão

Muito bem organizada,

Nas ruas anda o cordão.

Se segue a Semana Santa

Com a sua tradição:

A lamentação das almas

Que canta sua oração,

Nas quartas e sextas-feiras,

À meia noite em procissão.

Mulheres vestem de branco

Pra encomendação das almas,

Entoam benditos fúnebres

Em duetos com voz calma,

De arrepiar toda gente

Com matraca e som de palmas.

Domingo de páscoa chega,

No sábado a queimação

De Judas Iscariotes

Um boneco e gozação

Dependurado num pau

É essa a condenação.

Leiam logo o testamento

Nomes de alguns da cidade

Faz a distribuição

Da herança em igualdade,

Tudo citado em versas

Por poeta de qualidade.

Depois disso botam fogo

No pobre Judas traidor

Se reúnem numa praça,

Riem, pulam qual torcedor.

As crianças se divertem

Ao verem Judas com sua dor.

Chega, então, o mês de maio,

Mês de flores e de alegria

O mês todo é do Rosário

Louva-se a Mãe Maria;

Cada noite há procissão

Nas pobres ruas e vias.

Termina o mês de Maria,

Vem o mês de São João,

As fogueiras e alvoredos,

Os fogos e também balão,

As quadrilhas saem nas ruas

E depois vão pro salão.

São Pedro também há festa,

Há canjica e há quentão,

Há quadrilha também baile

Com bastante animação;

Fogos soltam sem parar,

Nos bailes tocam baião.

Vem então as festas cívica,

Dos meses de feriados,

Em dezembro e em janeiro,

Ambos já foram citados.

Esse é o aspecto daqui,

Do presente e do passado.

Há doutores e professores,

Juízes, padres e irmãs,

Poetas também escritor,

Promotor também anciã

Que contam história da terra

De alma forte e mente sã.

Todos citados à cima

São filhos dessa boa terra.

Há também autodidatas

Que na caneta faz guerra;

Porém são almas prudentes

Que meditam, que não erra.

Carinhanha é bonitinha

Com ruas e bem calçada;

A lua é muito bonita

Em noites de serenatas;

Acordes do violão

Dos boêmios na calçada.

Predomina a religião

Católica Apostólica

Romana no município;

Há muita crença folclórica

Que é tradição do povo,

Que canta poesia bucólica.

Trinta mil de habitantes

No município é o total,

Na cidade tem a metade,

Que é o número real;

Mas tá crescendo dia a dia

E a construção é geral.

Das lendas e dos tabus,

Do caboclo d`água tem,

Sexta-feira o lobisomem

Vem aparecer também;

Mas de todos os tabus

Para os jovens não convém.

Há colégio e faculdades,

Banco do Brasil também.

Há vários grupos bonitos;

Há doutores que convém;

Farmácias e farmacêuticos,

Funerárias que mantêm.

É a cidade mais alta

Segura de inundação,

No Vale do São Francisco

Com um cais e paredão

De balaustrada bonita

Dando uma boa impressão.

A cidade é muito plana

Com grã comunicação,

Uma ponte muito linda

Cobrindo o Velho Chicão;

Guanambi à Carinhanha

Asfalto com precisão.

Vive o povo da lavoura:

Milho, batata e feijão,

Mandioca e abóbora,

Cana, mamona e algodão.

Há plantação na vazante

À margem há plantação.

E também vive da pesca

O povo de nossa terra,

Quando vem a seca mata

Os mantimentos deveras;

Ninguém morre aqui de fome,

Pega o peixe pela guelra.

Da pecuária são os bovinos

De mais apreciação;

Já houve feira de gado

Houve preço de leilão;

Há muitas fazendas boas

E terras de plantação.

Quando chega o tempo bom,

Da natureza a jorrar,

Em janeiro o pequi há,

Também umbu e puçá,

Tem cagaita e o caju,

Que são natos do lugar.

Tem a cabeça de negro,

A pitomba e o jatobá,

Que muitos fazem jacuba

Indo no mato pegar;

Tudo isso nos dá prazer

Que a natureza nos dá.

São essas riquezas aqui

Frutífero do lugar,

Muita gente vai ao mato

Com latas para apanhar;

Comem, vendem, e ainda dão,

Ainda fica à fartar.

Pra terminar meu cordel,

Conto do bicentenário

Duzentos e trinta e dois

Anos, em seu calendário:

Paróquia de Carinhanha

Com o seu primeiro vigário.

Mil oitocentos e seis,

Tomou posse o vigário;

Em seis de agosto do ano

Encontrado em calendário;

Já setenta padres aqui

Viveram como lendários (Célebres)

Primeiro pároco foi

O padre Pedro Machado

Da Cruz Pereira vigário

Chegou e foi empossado

Por Dom José Azevedo

E no livro foi tombado.

José Camilo de Souza

Que foi vigário também,

José Lélis e Edílson,

O padre Élio porém,

José Domingos da terra

Nasceram aqui: Parabéns.

Dom Walmor, o Arcebispo,

Que mora em Belo Horizonte

Também é filho da terra

Riqueza qual diamante;

Cocos era município,

Seu registro é confirmante.

Dom José Grossi, o Bispo

Enviou-nos Wanderley

Pra tomar conta do povo

De Deus ensinar a Lei,

Depois vieram os Vicentinos

Na década de oitenta veio.

O primeiro foi Getúlio

Chegou com disposição

Até hoje essa paróquia

São padres dessa missão,

Trabalhadores fieis

Com grande dedicação.

Vou terminar o meu cordel

Recitando uma canção:

É o Hino dessa terra

De minha composição.

“Eu te amo, Carinhanha

Dentro do meu coração.”

Hagaribeiro.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 20/03/2011
Código do texto: T2859458