NADA
O nada cresce, concreto vivo.
Distante há um som.
Meus ouvidos de vidro se equilibram
no fio da imaginação, imagem nítida
da ausência,
e eu diminuo, quase desapareço,
indecência de gente a marcar
um ponto no nada que se
prolifera;
fera que dilacera a imagem
da mente:
um grão de mostarda, fé pouca,
a desmanchar no calor da terra
salgada.
Nada! Grita uma voz rouca, quase
apagada,
som de pano velho
que faz húmus à semente
nas bordas do espelho.
O concreto rouba a alma e
sorrir, infante gigante
a se aninhar nos braços de
mármore
da infertilidade do chão.
Nada. Nitidamente ouve-se
um fio de voz, talvez seja a imagem
do espelho
a fazer ponte no vidro do ouvido
e correr pelo telhado
(gatos no cio)
a se apagar com os primeiros
vestígios do dia.