NADA

O nada cresce, concreto vivo.

Distante há um som.

Meus ouvidos de vidro se equilibram

no fio da imaginação, imagem nítida

da ausência,

e eu diminuo, quase desapareço,

indecência de gente a marcar

um ponto no nada que se

prolifera;

fera que dilacera a imagem

da mente:

um grão de mostarda, fé pouca,

a desmanchar no calor da terra

salgada.

Nada! Grita uma voz rouca, quase

apagada,

som de pano velho

que faz húmus à semente

nas bordas do espelho.

O concreto rouba a alma e

sorrir, infante gigante

a se aninhar nos braços de

mármore

da infertilidade do chão.

Nada. Nitidamente ouve-se

um fio de voz, talvez seja a imagem

do espelho

a fazer ponte no vidro do ouvido

e correr pelo telhado

(gatos no cio)

a se apagar com os primeiros

vestígios do dia.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 20/03/2011
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