A SEPARAÇÃO

Já é sessenta

é demais

ou será pouco

já estou rouco

já é sábado

ou será santo

é madrugada

o frio é justo

o cobertor é curto

eu sou sonâmbulo

ou maluco

ou astuto melancólico

estou bêbado

é sexta-feira

santa hora de acordar

fiz o mapa

fiz um débito

escrevi cartas de amor

era novo, estava livre

era falso

o bolso furou

estava tarde

estava morto

o fim do coito

ofegante

o coração fraco

o nervo flácido

o insucesso

o insalubre

o beija-flor.

Já é almoço

estou com fome

quebrei o garfo

o dente podre

a mulher pobre

a roupa suja

a mala pronta

a desconversa

perdi o medo

dormi na sala

quebrei o jarro

paguei os juros

acordei meio tonto

rasguei o livro de contos

bati a porta

foi o desgosto

fiz juras eternas

maldisse as horas

dormi na rua

o escuro da noite

o frio na espinha

a dor era justa

o fim era certo

o perdão era imposto

a crise findou.

Arrumei as malas

fazia sol

a manhã estava linda

o brilho nos olhos

o espelho amigo.

Sessenta já era

sou jovem pra sempre.

Um novo sonhador.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 19/03/2011
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