“JE PENSE, D’ONC JE SUIS” /// LUTO PELO PASSAMENTO DO COLEGA ODAIR SILVEIRA

A minha lucidez me enlouquece

Rocha eu sou e suave prece

Atravesso desertos sem sede

Camelo da vida, alma embebida

Venço as procelas

Varo noites

Abro cancelas

E covas

Vejo cadáveres sem vomitar

A minha lucidez me enrijece

E quando sei da iminência

Da impossibilidade da ciência

Minto e finjo

Para entre feras sobreviver

A minha lucidez faz de mim um jequitibá

E por bom ou por ruim

Tão pouco se me dá

A minha lucidez é cal sobre o rosto

É a providencial pá

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A MORTE NÃO É VIRTUAL

Faleceu o poeta Odair Silveira. Pouco tempo faz que ele começou a comentar textos meus. Primeiro fiquei sabendo desse acontecimento triste quando li a nota publicada por José Cláudio. Nesse instante não liguei o nome à pessoa. Encerrei as atividades no computador logo após as minhas publicações de hoje. Ainda assisti ao programa do Jô e sentia vontade de voltar ao PC e não costumo reabrir a máquina. Estava inquieta e não sabia por qual motivo. Retornei, enfim e ao rever as páginas do Recanto das Letras, encontro outro aviso sobre o falecimento do escritor. Resolvi, então, procurá-lo.

Diante da página do colega, ao avistar a foto em que aparece ao lado do filhinho, permaneci sem ação, sem reação, esperando que me houvesse enganado e tivesse ido parar na página errada, Mas, a dura realidade é que, ao olhar a lista de textos publicados, lá estão as irrecorríveis palavras: NOTA DE FALECIMENTO.

NOTA DE FALECIMENTO, eu lia e relia ainda incrédula. Não queria algo assim em plena madrugada, o silêncio da poesia do colega, do homem de fina educação e suave trato com os seus companheiros de site, com os seus colegas nas estradas da poesia, da arte da palavra.

A emoção me tomou e correu um arrepio por todo o meu corpo e lágrimas desceram pelo meu rosto. Apesar na minha ignorância e estupidez em questões relativas à fé, sempre eventos desse tipo me acontecem, assim como se o espírito da pessoa falecida fizesse questão de me avisar do ocorrido e criasse uma situação como esta em que retornei ao computador depois das duas horas da manhã de 19 de março, dia consagrado a São José.

Fiquei também refletindo e mais uma vez chegando à conclusão de que o mundo virtual é muito mais real do que a gente possa mesmo imaginar. Registro minha saudade e a falta que ficará da poesia por acontecer em Odair, retirado da nossa convivência ainda muito jovem. Saudades do seu comentário sincero e caloroso. Saudades, Odair, muitas saudades de você.

Observação: Este texto foi aqui publicado às 3 horas e 45 minutos de 19 de março de 2011.

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