O POETA E O CARRASCO
O POETA E O CARRASCO
Não sei se lembras
Mais de mim como poeta
Ou como um carrasco
Mas saiba que minha virtude
Ou meu erro
É não saber distinguir qual o frasco
Que uso pra me perfumar
Por vezes me embebedo de poeta
E saio a versejar
Noutra pingo o odor feroz do carrasco
E dou golpes em todo canto e lugar
Acho que por medo
Acho que por inconsistência
De não saber de que estirpe eu sou
Minha forja foi perdida
Meu mundo está em decadência
Por isso que ponho a armadura
Pego o machado
E decepo as cabeças que se põe a frente
Mas percebo o quão sou nocivo
O tanto sou permissivo
Em deixar mais de um que de outro aflorar
Não me culpe por desatinos
Só fiz o que fiz por ser menino
Banco o homem ser
Mas se por acaso meu crime
É pior que o que me redime
Deixo-te um verso pra te amolecer
'És na poesia que te louvo
É no amor que te absorvo
É na vida que quis ter
E pra ser poeta de novo
Solicito seu perdão e me envolvo
Num dobrar de joelhos a me derreter
E em seus cabelos me embrenharei
Me suas mãos tecerei
Mais versos do que você pode crer
E sem dó nem piedade
Peço de você a verdade
Amas-me mesmo algoz por vezes
Eu estando a ser?'