ESPELHO NÚ

Eram escapes para uma dor insuportável que eu mapeava de saudade. Essa saudade era nominal ao invisível, comparsa de todas as fugas. Eu o neguei tantas vezes em meus delírios febris, que cheguei a aprender a desbravar conflitos, e ainda assim, o meu discurso é de mais quimeras. E quando mudo o tom, ele me chama a atenção e remete-me a um passado torto.
Eu queria mesmo era o hálito quente em minhas veias e o brilho do amor como verniz das minhas vontades.
Enquanto me movo na frente do espelho à procura de sons que possam traduzir o meu desejo por ele, alguns pedaços de mim saem fora do quebra-cabeça e se confundem na imagem que me molda no espelho.
O corpo avolumado do tempo e dos desencontros emergem e se arrastam por dias e dias. Eu era sempre o desejo por ele... e fazia-me falta ser a Mulher que o completava. Ele me desenhava azul quando queria mergulhar e aplacar seus desgostos,já não sei se era eu que me me aproveitava de seus tons para ser mais feliz, ou se ele me iludia com confetes de carmim.
O meu coração que adornava os cabelos era de uma lua reluzente... quase beijávamos, quase tocávamos o nosso dentro e quase sonhávamos o mesmo sonho. Éramos o retrato falado do que escrevemos nos poemas. Opostos como sombra e paisagem.
O doce lar era a angústia de tantas distâncias. Ele era o longe e eu o pé na estrada.
Os sons que busco ao espelho surgem como sinfonias de enclausuramento. Que venham as horas e as marcas na pele. Sou o que me resta do lirismo dos versos moldados num papel de neve...as margens de não sei quê, e não sei onde....buscando atalhos. Eu me olho e não me vejo e ainda assim me espero.

             Imagem e texto: By Dama da Poesia
Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 18/03/2011
Reeditado em 18/03/2011
Código do texto: T2856819
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