O MACHADO E A CANETA

O machado na árvore, a mão na terra

A labuta para formar a batuta

do regente

E o indigente com calos nos pés

e nas mãos

Fazem o caminho por onde passarão...

Passarão e serão ultrapassados

- estradas e homens

Os que comem e os que passam fome

no preparo do pão

No corte do atalho, na limpeza dos retalhos

No sono cortado pelos sonhos afogados

na sobremesa da separação.

Madeira e concreto, sangue e suor

E a construção da palavra

- a arte do poema

Penas e tintas de um tempo eterno

Que se equilibra no azulejo

Escorregadio no tempero da construção.

E a arte fulgura pelos galhos das árvores

- pássaros em concerto

E no choro infante no berço;

Operários, poeira, tosse, consertos

A embalar os futuros sonhos

Com música em acalanto.

Lavada a roupa, o som do sol

Na secagem do varal

O gosto de sal da praia deserta

As muralhas da China

O cavalo com sua enfeitada crina

As arquiteturas da esquina

- o Clube da Esquina

A vindima a afugentar o milagre

São feitos por braços e mentes:

da semente da reprodução.

Frentes e versos, canções e correntes

Os presentes no dia das mães

- A feira das ilusões

Os espaços dos oprimidos

O corte com cacos de vidro

A rima, pobre ou rica...

Cansaço... sofrimento...

- tempero para o fim da solidão

A contramão para o enriquecimento.

Enxada e caneta

Livros, tecidos bordados.

Trabalho: com foice e machado

Sacrifício e liberdade... e suor

Até morrer na parada do coração.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 18/03/2011
Reeditado em 18/03/2011
Código do texto: T2854824