O MACHADO E A CANETA
O machado na árvore, a mão na terra
A labuta para formar a batuta
do regente
E o indigente com calos nos pés
e nas mãos
Fazem o caminho por onde passarão...
Passarão e serão ultrapassados
- estradas e homens
Os que comem e os que passam fome
no preparo do pão
No corte do atalho, na limpeza dos retalhos
No sono cortado pelos sonhos afogados
na sobremesa da separação.
Madeira e concreto, sangue e suor
E a construção da palavra
- a arte do poema
Penas e tintas de um tempo eterno
Que se equilibra no azulejo
Escorregadio no tempero da construção.
E a arte fulgura pelos galhos das árvores
- pássaros em concerto
E no choro infante no berço;
Operários, poeira, tosse, consertos
A embalar os futuros sonhos
Com música em acalanto.
Lavada a roupa, o som do sol
Na secagem do varal
O gosto de sal da praia deserta
As muralhas da China
O cavalo com sua enfeitada crina
As arquiteturas da esquina
- o Clube da Esquina
A vindima a afugentar o milagre
São feitos por braços e mentes:
da semente da reprodução.
Frentes e versos, canções e correntes
Os presentes no dia das mães
- A feira das ilusões
Os espaços dos oprimidos
O corte com cacos de vidro
A rima, pobre ou rica...
Cansaço... sofrimento...
- tempero para o fim da solidão
A contramão para o enriquecimento.
Enxada e caneta
Livros, tecidos bordados.
Trabalho: com foice e machado
Sacrifício e liberdade... e suor
Até morrer na parada do coração.