O DONO
Ossos secos ressurgem do orvalho.
Moças bonitas cantam seus heróis do passado.
Via o vidente à cena pela fumaça de seu cachimbo.
O vale é extenso.
Correm gazelas muitas.
Havia uma margarida perdida na visão vasta.
A madeira geme ante a brasa do fumo.
Ressuscito meus irmãos de outrora.
O lago treme com o peso de seus passos.
Era o exército de negros da senzala.
O povo da África que chegou para trabalhar.
O Brasil tem Joaquim de Angola e de Aruanda.
Tem Maria Conga e vovó Miquelina.
Tem Nanã, Exu e Oxalá.
Ninguém briga.
É só silêncio na campina.
Os grilhões não ferem mais,
A chibatas se foram há horas,
Mas Seu Veludo nos fala de luto.
Ser negro custa caro.
Custa a cara.
Custa a vida.
Custa o custo herdado.
Esse é o grito abafado.
Coisa de escravo.
De negro calado.
E a consciência?
Meu senhor fala dela.
Fala da minha caminhada.
Ele é o dono.