O DONO

Ossos secos ressurgem do orvalho.

Moças bonitas cantam seus heróis do passado.

Via o vidente à cena pela fumaça de seu cachimbo.

O vale é extenso.

Correm gazelas muitas.

Havia uma margarida perdida na visão vasta.

A madeira geme ante a brasa do fumo.

Ressuscito meus irmãos de outrora.

O lago treme com o peso de seus passos.

Era o exército de negros da senzala.

O povo da África que chegou para trabalhar.

O Brasil tem Joaquim de Angola e de Aruanda.

Tem Maria Conga e vovó Miquelina.

Tem Nanã, Exu e Oxalá.

Ninguém briga.

É só silêncio na campina.

Os grilhões não ferem mais,

A chibatas se foram há horas,

Mas Seu Veludo nos fala de luto.

Ser negro custa caro.

Custa a cara.

Custa a vida.

Custa o custo herdado.

Esse é o grito abafado.

Coisa de escravo.

De negro calado.

E a consciência?

Meu senhor fala dela.

Fala da minha caminhada.

Ele é o dono.

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 17/03/2011
Código do texto: T2854151
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