DA SILVA SONG
nas ladeiras
o sol de chuva rebate num caco de vidro
do chão lavado saem as ervas das rachaduras
e o rosto refletido no mesmo caco de vidro
sorri um sorriso oco pela chuva que se foi
o pé descalço mal toca as pedras duras
logo desaparece entre as tábuas soltas
é assim livre: sem casa, sem carro, sem boi
nos telhados
as caixas dágua apontam para um outro futuro
enquanto a noite se desdobra em densas mantas
envolvendo o namoro de gatos magros sobre o muro
uma criança desperta, horrorizada pelo clarão da lua
mamãe, mamãe, teu calor os demônios espanta
e um novo dia desponta pelas frestas das janelas
brilhando sobre as cabeças que invadem o meio da rua